terça-feira, 20 de setembro de 2016

Agradecimentos e reflexões- Etnolírico

Eu falei que teria "textão" de agradecimento, enquanto escrevo não sei mensurar quantas linhas serão necessárias para agradecer e refletir sobre tudo o que vivi de 12 a 18 de setembro de 2016 em São Paulo, poucas ou muitas elas não serão suficientes.  Meu primeiro agradecimento é para Inaicyra Falcão artista homenageada desta edição do Encontro, foi na intenção de celebrar sua trajetória musical que surgiu a ideia de criar este projeto de intercâmbio com o Runsó e que certamente terá continuidade. Peço desculpas se em algum momento a produção ficou a “desejar”, tenho a certeza de que cada profissional que ali estava tentou fazer o seu melhor, com dedicação, respeito, honestidade, cuidado e amor.

Sidney Rocharte
Somos diversos, consequentemente nossas artes e visões de mundo também. Se analisarmos essa diversidade também se fez presente em cada espaço que nos acolheu, vejam só: o Instituto Sarath é um espaço Terapêutico e cultural situado na Vila Mariana;

Sidney Rocharte

O Memorial da América Latina foi inaugurado em 1989, é um conjunto arquitetônico, projetado por Oscar Niemeyer, tinha como objetivo estreitar as relações políticas, econômicas, sociais e culturais do Brasil com os demais países da América Latina.
Sidney Rocharte

O Espaço Cachuera, situado em Perdizes, foi projetado de forma a priorizar a acústica, abriga apresentação de grupos de cultura popular e música erudita, o projeto arquitetônico é da arquiteta Érica Yoshioka e a concepção e tratamento acústicos são de Adalberto Baggio, sem sombra de dúvida excelente espaço para iniciarmos a circulação do Concerto Encontro Etnolírico.

Renato Candido

O Espaço Clariô foi inaugurado em 2005, com o objetivo, a principio, de sediar o grupo de Teatro Clariô e suas criações, na busca de dar continuidade e consistência a sua pesquisa. Uma casa (hoje um galpão), que se localiza na fronteira entre Taboão da Serra e São Paulo, lugar muito carente e precário por abrigar famílias que são vítimas constantemente das ENCHENTES causadas pelo córrego Pirajussara e, conseqüentemente do abandono do poder público. Ao se estabelecer na rua Santa Luzia, 96, o grupo imediatamente entrou em contato com a comunidade do entorno e se deparou com uma defasagem cultural imensa, do mesmo modo que um enorme desejo, principalmente das crianças e jovens, em adentrar o mundo do teatro e suas possibilidades. Então, decidiram fazer do espaço não apenas um sede, mas  um local mediador entre a cultura e esta população, ali mesmo. Desde então, realizam atividades culturais permanentes, que foram, ao passar do tempo, se tornando fundamentais, tanto para a "formação" desse público, quanto para o movimento cultural local. A partir daí, os integrantes do Clariô se reuniram e decidiram abrir mão de seus cachês em prol da REFORMA DO ESPAÇO, que em novembro de 2010, deixou de ser uma casa para se tornar um GALPÃO TEATRAL.

Sidney Rocharte

O Teatro Popular Solano Trindade  fundado em 1975 pela artista plástica, coreógrafa e folclorista Raquel Trindade – a Kambinda –, filha mais velha do pintor, ator, dramaturgo e cineasta pernambucano Solano Trindade, único Teatro da cidade de Embu das Artes (já que os demais são denominados como Espaços Culturais), é uma família que desde os tempos de Solano Trindade vem contribuindo e lutando em conjunto com o movimento negro para a autoestima do povo afro-brasileiro. 

Sidney Rocharte


Em uma semana de atividades transitamos por 5 espaços culturais, contemplando regiões e públicos diferentes, compreendendo e respeitando a natureza de cada um. Agradecemos, pois sabemos o quanto é difícil manter um espaço cultural e temos a convicção de que o único caminho para produzirmos é o da coletividade.

Eu, Josi Acosta, agradeço ao Runsó pelo amor, compreensão e generosidade, conseguiram intercambiar sim e sensibilizar o público com esta musicalidade que verte e bebe das águas da nossa ancestralidade, uma musicalidade negra-indígena-brasileira, diversa, e que por dialogar com nossa religiosidade não deixa de ser arte. Conseguem transitar com maestria entre a raiz mais popular da nossa cultura e dialogar com o erudito sem perder sua essência. Gratidão a todos e em especial ao Maestro Di Ganzá que soube reger muito bem os 11 artistas que estavam em cena.
Renato Candido

Agradeço o Encontro rápido, fértil e provocativo com Salloma Salomão, artista, africanista e professor doutor que me fez refletir: seria étnico tudo que não parte dos europeus, quando dizemos que desejamos produzir uma arte universal é uma arte que se encaixa nos padrões de quem? Universal é tudo que é feito pelo o Europeu? E aos demais povos sobra o étnico?

Criamos o projeto e não temos receio em dizer que o Conceito de Etnolírico ainda está em construção. Quero estudar mais e aprofundar as questões levantadas na roda de diálogos.  Para nós a musicalidade fruto da fusão entre cânticos de diferentes culturas em diálogo com forma lírica de cantar resulta no Etnolírico, o lírico em diálogo com o spiritual, cânticos de tradição yoruba, de origem bantu, de tradição da África do Sul, de compositores brasileiros que se inspiraram nas lendas africanas, indígenas a fim de produzir uma música erudita brasileira e qualquer outro cântico que possa servir de inspiração aos nossos artistas. Se pesquisarmos rapidamente na internet sobre negros cantando música erudita, vamos encontrar artistas brasileiros que são consagrados aqui e no exterior cantando óperas. Mas é possível colocar em espaços consagrados da música erudita brasileira essa musicalidade produzida por Inaicyra, Negravat, Abanã Orin, Runsó e diversos corais negros que existem em nosso país? É muita complexidade para ser esgotada em um roda de diálogos com duração de duas horas. Mas mudar o nome do projeto para etnomusical não resolve, porque afinal quero difundir o trabalho de artistas onde a música é atravessada por uma forma específica de cantar. Um canto que me encanta e não está na mídia, não só pela forma, mas também pelo conteúdo. 

Por fim, agradeço aos parceiros que foram fundamentais para realizar o Encontro, sem eles nada seria possível: Ailton Pinheiro, Karla Koimbra, Amanda Nascimento, Luciene Weiland, Amabile Roberta, Renato Candido e Sidney Rocharte, profissionais que doaram o seu trabalho por admirar os artistas que estavam em cena.

O Encontro Etnolírico-Destino São Paulo foi realizado, agora é trabalhar para lançar até o fim de outubro o vídeo documentário e realizar um bate-papo com o público baiano. O nosso muito obrigado a SECULT que tornou viável a realização deste intercâmbio com o apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.

  

Obrigado aos artistas pela confiança, aos apoiadores, ao público, a equipe técnica de todos os espaços e a nossa equipe de produção. 

Que venham outros encontros férteis, provocadores e inspiradores!
Encontros que nos fortalecem e nos fazem crescer!
"NÓS POR NÓS!". 

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